sábado, 14 de agosto de 2010


O Surdo Frente à Modalidade Escrita da Língua Portuguesa

    O maior problema causado pela surdez é a barreira da comunicação em Língua Portuguesa seja ela na modalidade oral ou escrita.
   O aprendizado da língua Portuguesa tem sido, ao longo de muitos anos, a maior dificuldade para os alunos surdos. Apesar do enorme esforço de professores e dos próprios alunos, os resultados nem sempre são satisfatórios.
 A modalidade oral da Língua Portuguesa deve iniciar-se no programa de estimulação precoce, continuar com grande intensidade na pré-escola e no período de alfabetização e, passar, aos poucos, a caracterizar-se mais como um aperfeiçoamento que depende do esforço individual do aluno nos momentos de interação com os ouvintes e falantes do Português.
 Por ocasião do aprendizado da modalidade escrita, a análise da situação dos surdos permite inúmeros questionamentos, tais como:
  * Para adquirir a capacidade de ler é necessário saber falar?
    * Emitir fonemas garante um verdadeiro aprendizado da leitura?
    * Escrever palavras e pequenas orações garante que os alunos surdos se tornem produtores de textos em Língua Portuguesa?
Essas indagações, entre outras igualmente complexas, remetem a uma mudança de paradigma, em que o trabalho de aprendizado da leitura e da escrita (alfabetização) de surdos caminha, visando a uma amplitude maior, na qual o aluno seja leitor e produtor em Língua Portuguesa.
Assim sendo, torna-se clara a seguinte conclusão: não mais se espera que o aluno comece a emitir fonemas, ou palavras, para posteriormente, serem trabalhadas as funções do texto escrito e a sua produção.
Os primeiros passos a serem desencadeados no processo formal do aprendizado da leitura e escrita (alfabetização) de surdos, envolvem a tomada de consciência por parte do aluno:
 * da existência e da importância do aprendizado da Língua Portuguesa na modalidade escrita; * da diferença substancial entre a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS;*         de que o processo de aprendizado da leitura e da escrita (alfabetização) ocorre em Língua Portuguesa.
Quanto aos professores, é absolutamente necessário que se conscientizem de que:
* é fundamental que o aluno tenha linguagem interior e receptiva, antes de adquirir condições de ter linguagem expressiva (seja oral, escrita ou de sinais);
 * o aluno surdo é perfeitamente capaz de compreender os (processo de análise e síntese de composição e decomposição das letras e sílabas de uma palavra), mesmo que não consiga emitir fonemas, ou palavras;
* a linguagem expressiva (fala) não é pré-requisito para a alfabetização; significado de palavras isoladas, principalmente os substantivos concretos, como por exemplo, colher, sopa, mel, etc.;
* um dos maiores problemas enfrentados pelos alunos refere-se à interação vocabular, ou seja, a independência das palavras em uma frase. Nesse caso, é preciso que o professor se lembre de que a expressão “colher de sopa”, por exemplo, funciona como um substantivo “composto” para designar mais o tamanho da colher do que propriamente sua finalidade. Assim sendo, o professor deverá trabalhar diferentes frases que contenham as palavras “colher”, “sopa” e “mel”, até poder chegar a dizer “tome uma colher de sopa”, “pegue a colher de sopa” e “tome uma colher de sopa de mel”, sem que o aluno confunda seus significados.
A leitura e a escrita são os temas educativos mais importantes para os surdos e são atividades complementares dentro da sociedade.
Algumas funções estariam implicadas no ato de leitura:
* percepções visuais: que permitem o reconhecimento de sinais (letras) diferentemente orientados no espaço;
 * inteligência: que possibilita compreender os conceitos representados pelas palavras e frases;
 * memória: que viabiliza a fixação imediata e que permite antecipações.
A modalidade escrita de uma língua como a Língua Portuguesa permite transmitir mensagens no tempo e no espaço e é responsável pela transmissão de conhecimentos. (Alisedo, 1994).
Embora a expressão gráfica (desenho) e a expressão lingüística não façam parte do mesmo processo cognitivo, interligam-se com eficácia no processo de letramento da criança surda, porque compõem a área expressiva.
A modalidade escrita é muito importante, porque a oral ou a dos sinais não podem existir em todos os momentos . Essas modalidades são independentes umas das outras, embora mantenham relações particulares.
Não há relação natural entre um significante gráfico (letra) e o significante fônico (som) ou entre esse e o significante visual/motor (sinal). O que existe é um potencial único de expressar o mesmo conceito, o mesmo significado. O que se pode falar, pode-se veicular através de sinais ou pode-se escrever.
O trabalho prévio com livros e revistas é absolutamente necessário para se permitir a prontidão para a aprendizagem da Língua Portuguesa escrita.
A Língua Brasileira de Sinais utilizada pela maioria dos surdos, bem como a Língua Portuguesa oral não são fatores fundamentais no aprendizado da Língua Portuguesa escrita, mas servem como suporte semântico e pragmático para esse aprendizado, dentro de um contexto.
O trabalho direto com a escrita nem sempre significa aprendizado da leitura. Para o aprendizado do Português, em sua modalidade escrita, deve-se iniciar, a partir do relato das ações vivenciadas, e narradas pelos alunos.
Costuma-se dizer que o professor deve ser o “escrita” de seus alunos, transcrevendo o que é relatado por eles, dramatizando e levando-o a dramatizar os fatos vivenciados e, se necessário, utilizando a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Assim o professor estará propiciando a seus alunos a oportunidade de dar sentido e significado às estruturas lingüísticas da Língua Portuguesa, como forma de expressão e comunicação.
O educador interage, assim, efetivamente com seus alunos, facilitando o complexo processo de aprendizado da Língua Portuguesa.
Nesse percurso, a leitura é a primeira a acontecer. Não a leitura analítica de palavras por palavra, mas sim, a leitura globalizada, onde o aluno entende o contexto dentro do texto. Mesmo não sabendo ler todas as palavras, ele percebe a mensagem do texto e interpreta o que lê.
A compreensão da leitura deve preceder à expressão escrita. O reconhecimento de imagens gráficas ocorre sem a necessidade de emissão gráfica (escrita) simultânea.
A discriminação visual é fundamental para a identificação das imagens gráficas. Para tanto é necessária a utilização de informações visuais gráficas redundantes e suplementares ao texto, relacionadas às experiências vivenciadas pelo aluno surdo.
Nesse sentido, a leitura não consiste no reconhecimento de letras, sílabas e palavras, mas sim na capacidade de interpretar o conteúdo expresso pela escrita percebendo os símbolos gráficos de forma global, compreendendo o seu significado como um todo, reagindo, julgando-os e integrando-os a sua vivência.
Dessa forma, a língua escrita constitui um todo em que as palavras se estruturam em frases, em que há uma relação de dependência significativa, formando a seqüência dos fatos.
Embora uma língua se estruture nos níveis fonológico, morfossintático, semântico e pragmático, para o aprendizado de Língua Portuguesa pelo aluno surdo, praticamente, são levados em consideração apenas os níveis morfossintático, semântico e pragmático, considerando a não configuração de imagem acústica e as dificuldades articulatórias desses alunos.
No processo da escrita, o aluno surdo percorre os mesmos passos do aluno ouvinte, utilizando-se da visão. Às vezes “soletra”, com as mãos, ou articula, os fonemas correspondentes as letras que deseja escrever, chega  à análise e síntese e memoriza palavras.
Há uma diversidade metodológica ao desenvolver-se os mecanismos da leitura e escrita, sendo aqui enfatizadas propostas analíticas, sintéticas e analítico-sintéticas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010


Escrito por Eli




Estava lendo uma notícia interessante no portal Terra  que diz que um projeto de lei criado pelo deputado Edmar Moreira pelo PR de Minas Gerais exige que os donos de lan houses que possuem mais de vinte máquinas adaptem as máquinas para que os deficientes visuais possam acessar a internet como qualquer outro usuário. No projeto que os parlamentares da Câmera Federal estão exigindo é que todos os computadores desses estabelecimentos tenham teclados em braile, programas de informática para leitura de tela ou apresentação em caracteres gigantes, além de presença obrigatória de fones de ouvido e microfones em todas as máquinas.


 Crédito da imagem: Instituto dos Cegos de Campinas

Como eu disse acima, este projeto está em discurso na Câmara, e se aprovado as lan houses terão 120 dias para adaptar todos os computadores. E você o que acha?

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