Por Coraci Machado Araújo
Esse poema eu escrevi um dia que vinha daquelas viagens de visita às escolas.(2001/2004) Naquela oportunidade vinha da Gleba Martins. Era uma época que tinha muitas queimadas e os rios estavam quase secos. Algumas árvores começavam vestir uma nova roupagem e os passarinhos, timidamente, cantavam e procuravam, em vão, frutas para comer.
Por isso, esse poema sobre o desrespeito ao meio ambiente, suas conseqüências e a força da natureza de superar os maus tratos e começar de novo.
O fogo passou levando tudo
O que era alegria virou tristeza
A floresta ficou de luto
Com a mancha da natureza
No coração da floresta,
Uma chaga, um desespero
Alguém fez derrubada
E a alma maculada
De milhões de brasileiros.
O rio perdeu seu leito
Suas matas ciliares
E chora sem caminho, sem estrada
Sob imponentes olhares
Suas águas espalhadas
Suas margens assoreadas
Pelas árvores derrubadas.
Nas árvores do cerrado
Os pássaros não cantam mais
Em cada pedaço de chão
O que era paz
Virou lágrima no sertão
No coração dos animais.
A água que banhava o varjão
Secou seu manancial
Para esse coração nenhum cirurgião
Nenhum quarto de hospital.
Homem, motosserra, machado, fogo
Só ingratidão
A natureza começa de novo
E leva esperança ao povo
Com uma nova certidão.
Sob novos olhares da sociedade
Após as chibatas e grilhões
A natureza não está morta
Dá seu grito de liberdade
E vai procurando respostas
Para suas indagações.
Como fênix, apesar do amor ferido
Das cinzas vai renascendo
Fazendo pulsar seu coração sofrido
E sua história vai sobrevivendo.
Veja:
A chuva que deita e levanta o pé de feijão
Fazendo o milagre da transformação
Da semente, o grão, para a mesa do cidadão.
Na margem do rio e em seu leito
A água desce seu curso na maior calmaria
Como se imitasse o jeito
De uma romaria.
A floresta vai se recompondo de mais uma jornada
Renascendo agora
De alma lavada
Do que lhe fizeram outrora.
Os pássaros felizes em seus ninhos de amor
Esperam confiantes
Que germine a semente
Que se fará flor
E será mesa farta, para a família do pássaro e do trabalhador.
A ressurreição do cerrado
Depois da passagem do fogo
Tudo parece passado
As árvores se vestem de flores
De todas as cores
E começam de novo.
ESCRITO EM 21-10-02