Este texto faz parte de um relato sobre uma palestra para os professores formadores do AEE
Prezados colegas:
Socializo com vocês a "ajuda memória" da reunião de 04-09-2010
por Maria Vieira
A reunião geral com tutores e professores formadores convocada pela coordenção do Curso de AEE - Surdos contou com a presença da Profa. Flaviane e Profa. Keli para abordar a temática "Parâmetros para realização dos sinais da Libras", a qual compõe a programação de conteúdos do referido curso.
As exposições das professoras iniciaram-se a partir de relatos de suas histórias de vida evidenciando como ocorreram as aproximações delas com o universo da educação especial, e em específico, com a educação de pessoas surdas.
A Profa. keli relata sua experiência enquanto filha de pais surdos,
reafirmando a condição deles como pessoas autônomas, independentes, com profissão e família consolidadas, aspectos que lhes permitiram criar três filhos. A professora ressalta que, diferentemente da crença predominante na sociedade, eles "não são coitados", e eles também não se vêem como coitados. É preciso entendermos sua condição como sujeitos, uma vez que eles não têm os mesmos parâmetros dos ouvintes e nem por isso eles são inferiores ou isso podem lhes deixar frustrados, se entendermos e respeitarmos essa condição singular.
reafirmando a condição deles como pessoas autônomas, independentes, com profissão e família consolidadas, aspectos que lhes permitiram criar três filhos. A professora ressalta que, diferentemente da crença predominante na sociedade, eles "não são coitados", e eles também não se vêem como coitados. É preciso entendermos sua condição como sujeitos, uma vez que eles não têm os mesmos parâmetros dos ouvintes e nem por isso eles são inferiores ou isso podem lhes deixar frustrados, se entendermos e respeitarmos essa condição singular.
A Profa. Flaviane tem uma vasta trajetória no meio acadêmico, com curso de graduação, especialização e mestrado em Educação na Universidade de Santa Catarina. É bastante atuante no âmbito acadêmico. Domina a língua de sinais usadas em diferentes países e é fluente em Inglês. Segundo a Profa Keli, os estudos da Profa. Flaviane são bastantes consistentes e ela é muito exigente com o nível da tradução, demostrando cuidado também com aspectos teóricos e conceituais mediados pelo intérprete.
As exposições realizadas pelas duas professoras foram extremamente esclarecedoras de aspectos relacionados a constituição e lógica gramaticais da Língua de Sinais.
As professoras demonstraram um intenso conhecimento de aspectos gramaticais e históricos da Libras e realizaram uma excelente exposição esclarecendo questões relacionadas aos cinco parâmetros de formação do sinal, a saber: pontos de articulação; orientação; movimento; expressão facial e/ou corporal, cujo material está postado na plataforma.
No que diz respeito a "configuração de mãos", a Profa. keli lembra que esse aspecto diz respeito à forma que a mão adquire ao realizar o sinal e há 64 configuarações de mãos, sendo que há sinais feitos com as duas mãos do sinalizador. A Profa. keli recomenda o acesso ao dicionário de Libras no endereço: www.dicionario.libras.com.br. O alfabeto manual geralmente se utiliza para nomes próprios (pessoas cidades).
- A Datilologia diz respeito ao alfabeto manual. É uma espécie de "empréstimo da Língua Portuguesa" para se utilizar onde não há sinais (exemplo: nomes de cidades e de pessoas);
- Cada pessoa recebe sinal na comunidade surda. O sinal da Profa. Flaviane, por exemplo, a identifica com um gesto manual na altura do rosto, lembrando seu cabelo cortado no estilo "chanel" desde criança. Há sinais também para os nomes de cidade. Uberlândia, por exemplo tem um sinal, mas é conhecido para a comunidade local. Em outros contextos, recorre-se ao alfabeto manual;
- O gênero na Língua de Sinais não significa "homem" e "mulher", mas masculino e feminino, alcançando por exemplo coisas e animais;
- A composição gramatical da Libras nos permite entender que a pessoa surda não escreve "errado", mas a formação frasal em Libras é diferente, devido a supressão de artigos e proposições, dentre outras singularidades.
Ex: Livro, Carlos entregou ao professor
Formação frasal em Libras:
Livro, C-A-R-L-O-S entregar professor
- O tempo verbal pode ser manifestado pela expressão corporal. Ex: passado = passinho atrás presente = passinho à frente ou inclinação de corpo
- Ponto de articulação diz respeito ao ponto do movimento. Ex: para a palavra "quente" e para a palavra "rápido" são utilizados o mesmo sinal, mas para a palavra "quente" o movimento é uma vez só e para a palavra "rápido" o movimento é feito repetidas vezes;
- A expressão facial tem que acompanhar o contexto da fala;
Após uma exposição minuciosa desses elementos constitutivos da Língua de Sinais, a Profa. Keli enfatizou ainda alguns aspectos:
- Para a pessoa surda, a língua oral é imposta, mas a Libras é natural. Lembra que a Língua de Sinais não é universal, mas cada país tem a sua. Consoante a essa questão, no Brasil, recentemente foi modificada a terminologia para "Língua de Sinais Brasileira (LSB)," mas dada a facilidade e costume na utilização da sigla "LIBRAS", permanecemos com a designação Libras, contudo, agora escreve-se apenas com a primeira letra maiúscula, uma vez que não se trata mais de uma sigla.
- No Brasil, não há livros, revistas em língua de sinais, apenas materiais específicos. Nos Estados Unidos, na década de 1970 havia jornais na Língua de Sinais, mas essa prática, foi se perdendo com o tempo. Hoje é possível localizar esse material apenas em arquivos.
- É preciso lembrar que a pessoa surda pensa em Língua de Sinais e, na maioria das vezes, necessita escrever em Língua Portuguesa.
- Há regionalismos também na Língua de Sinais. A expressão gestual da palavra "ônibus", por exemplo, é diferente no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais;
- A Língua de Sinais Brasileira teve influências da Língua de Sinais Francesa. Embora cada país tenha sua língua própria, é relativamente fácil para a pessoa surda se comunicar em qualquer país, haja vista sua facilidade para fazer mímicas e lidar com as expresões faciais;
- Muitos pais têm expectativas que a criança vá a escola para ser oralizada, isso acaba dificultando o trabalho com a afirmação da identidade da criança surda e sua posição de sujeito;
- Na Inglaterra existem inovações científicas que fazem modificações genéticas no bebê na vida intra-uterina, quando detecta-se surdez. Há protestos e manifestações pela comunidade surada porque acreditam que surdez não é "defeito" e querem se afiramar enquanto sujeitos com identidades e subjetividades próprias.
Após a exposição teórica e outras considerações gerais foram respondidas dúvidas das pessoas presentes e feitas algumas ponderações sobre a situação dos intérpretes em Uberlândia.
Segundo a Profa. Keli a profissão de intérprete de Libras foi regulamentada recentemente e existem hoje em Uberlândia aproximadamente 40 intérpretes para atender as demandas das redes municipal, estadual e federal de Uberlândia. A profa. keli destaca a importãncia e complexidade dessa atividade e lembra que o município precisa investir mais nesta profissão valorizando-a inclusive financeiramente.
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